Por: Carlos Motta e Guilherme Altmayer
A cronologia Forma da Liberdade recompila a história do triângulo rosa e outros emblemas de movimentos pelos direitos homossexuais no Brasil, Estados Unidos e Europa. São incluídos eventos importantes da história do ativismo homossexual, com ênfase no triângulo rosa como símbolo de liberação sexual. Pesquisa e compilação internacional por Carlos Motta e brasileira por Guilherme Altmayer.
“Os poderes mortos estão por todo lado – na floresta, cortando as canções; a noite na paisagem industrial, desperdiçando e endurecendo a nova vida; nas ruas da cidade, jogando fora o dia. Queríamos algo diferente para nossa gente: não encontrar uma velha e reacionária república, cheia de medos fantasmagóricos, medos da morte e medos de nascer. Queremos algo diferente” Muriel Rukeyser, A vida de poesia
Uma forma geométrica básica: um polígono de três lados ou vértices e três lados ou cantos, segmentos de linha.
Um emblema: uma imagem pictórica, abstrata ou representacional, que representa um conceito, como uma verdade moral ou uma alegoria.
Um símbolo: algo que representa uma ideia mas é distinto dela e sua proposta é comunicar significado.
Triângulo: uma forma, um emblema, e um símbolo de opressão e liberação: uma forma de liberdade.
Áudio da cronologia Forma da Liberdade no Campo Sonoro da 32a Bienal de São Paulo, 2016, lida por Guilherme Altmayer.
A prática da sodomia e sua condenação (1530) é trazida por colonizadores europeus para o Brasil. A prática encontra aqui terreno fértil pois era grande a liberdade nas práticas sexuais dos povos nativos.¹
O Brasil descriminaliza a prática do sexo anal criminalizada por Portugal em 1530, ao não incluir no código penal do Império do Brasil qualquer referência a sodomia.²
Em 29 de agosto de 1867, Karl-Heinrich Ulrichs se torna o primeiro homossexual a se proclamar como tal e falar publicamente sobre direitos homossexuais ao reivindicar ao congresso alemão de juristas em Munique por uma anulação das leis anti-homossexuais.
É publicada a obra Bom Criolo, o primeiro romance homossexual do mundo ocidental. Escrito por Adolfo Caminha, a novela trata da difícil relação entre dois membros da marinha, um negro foragido da escravidão e um grumete branco.
Fonte: Acervo Sânzio de Azevedo
Nasce João Francisco dos Santos ou Madame Satã. Negro, pobre e assumidamente homossexual, morava e trabalhava como performista, cozinheiro e segurança na boêmia região da Lapa no Rio de Janeiro. Foi preso diversas vezes por furto, ultraje público ao pudor e porte de arma.³
A ativista norte-americana Emma Goldman é a primeira a falar publicamente a favor de direitos homossexuais em seus discursos e textos.
É fundada em Chicago a Sociedade de Direitos Humanos, primeira organização pelos direitos dos homossexuais. O movimento existiu por alguns meses antes de ser fechado pela polícia.
É criada uma divisão secreta da polícia alemã para tratar com homossexuais. Um dos seus primeiros atos foi demandar “listas rosas” ao redor da Alemanha. Estas listas, que revelavam nomes de homossexuais masculinos, são compiladas desde 1900.
O parágrafo 175 do código criminal alemão, que condenava práticas homossexuais, foi revisado por Adolf Hitler para incluir beijos, abraços, fantasias gays e atos sexuais entre homens.
25,000 gays condenados são presos forçadamente e levados a campos de concentração onde foram obrigados a usar um triângulo rosa invertido em seu uniforme. Durante os 12 anos do regime nazista, ao redor de 100.000 homens foram identificados em registros policiais como homossexuais, sendo 50.000 deles condenados por violar o parágrafo 175. Se fossem judeus gays, o nível mais baixo nos campos, eles usavam o triângulo invertido sobre a estrela de davi amarela.
Hitler determina a morte como punição a homossexuais.
Rudolf Klimmer, defensor radical dos direitos homossexuais na Alemanha Oriental pressiona a Organização dos Perseguidos pelo Regime Nazista para reconhecer as vítimas homossexuais e mais tarde conseguiu que fossem compensados pelo governo da Alemanha Oriental.
Formado na Dinamarca o grupo homofílico Forbundet af 1948 (Liga de 1948)
Flâmula do Clube Turma OK
Nas décadas de 1950 e 1960 no Rio de Janeiro e São Paulo, encontros homossexuais aconteciam nas chamadas turmas, reuniões secretas em apartamentos para socialização e transformismo. A Turma OK, ainda em funcionamento no Rio de Janeiro, é hoje um clube para socialização e espetáculos transformistas. ⁴
Fundado em Los Angeles The Mattachine Society, o primeiro grupo homofílico norte-americano. Em São Francisco é fundado o The Daughters of Bilitis, organizacão lésbica nacional pioneira. É formado o RFSL (Federacão Sueca para direitos das lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) na Suécia.
A polícia do Rio de Janeiro proíbe o uso de “fantasia de travesti”. No carnaval de 1964, a polícia agride foliões com golpes de cassetete na entrada de bailes que reuniam travestis. Em 1968 espetáculos com “travestidos” são proibidos e reprimidos, deixando muitas travestis desempregadas. ⁵
Criado no Rio de Janeiro o jornal Snob repleto de ilustrações, fofocas, contos e entrevistas com famosas travestis. O jornal circulou até 1969, quando se intensificou a repressão da ditadura militar. ⁴
A Galeria Metrópole, reduto bicha no centro de São Paulo é cercada pela polícia, que prende todas as pessoas que lá se encontravam. ⁶
O semanal alemão Der Spiegel dá capa ao tema da reforma criminal do Parágrafo 175, que descriminalizou atos homossexuais para pessoas acima de 21 anos.
Em junho de 1969, a polícia invadiu o bar Stonewall Inn em Nova Iorque, checou identidades dos presentes, fez comentários homofóbicos e transfóbicos e agrediu fisicamente membros da comunidade LGBT. Ao invés de aceitar calados, a comunidade reagiu. Este foi um dos primeiros levantes LGBTs nos EUA, e durou quase três dias.
Nos anos 1970, a língua de origem africana pajubá ou bajubá começa a ser usada pelas travestis em vários lugares no Brasil como meio de enfrentar a repressão policial durante a ditadura militar e despistar a presença de pessoas indesejadas. ⁷
Memórias da perseguição nazista aos homossexuais são relembradas no contexto político dos anos de liberação gay. Lésbicas compartilharam suas memórias do triângulo rosa e perseguição gay e tiveram um papel importante na recontextualização do triângulo rosa como símbolo de orgulho e libertação.
Acontece em Nova Iorque a Primeira Marcha do Dia da Liberação Gay, o Primeiro Day da Liberdade Gay em Los Angeles e São Francisco.
Na Berlin Ocidental um grupo de jovens gays frustrados formam a Ação Gay da Berlim Ocidental (HAW), a primeira organização radical do movimento gay alemão. Seu emblema era um punho cerrado dentro de um triângulo rosa.
O grupo Dzi Croquettes estreia espetáculo no Rio de Janeiro. O grupo se tornou notório por seu desprendimento às normas binárias de gênero com muita purpurina, mescla de vestuários masculinos e femininos, barbas, bigodes, tangas, desenhos psicodélicos, grandes cílios e bocas exageradas. ⁴
Josef Kohout publica na Alemanha O Homem Com o Triângulo Rosa utilizando o pseudônimo Heinz Heger.
A Suécia se torna o primeiro país do mundo a permitir pessoas transgênero a redesignação de sexo e acesso gratuito ao tratamento hormonal.
O grupo Secos & Molhados, liderado por Ney Matogrosso, lança seu primeiro disco. Com figurinos e maquiagem audaciosos e erotizados, Ney cria novas formas de afirmação do corpo e confunde os limites de gênero. ⁴
Ativistas nova iorquinos vestem triângulos rosas e protestam no conselho municipal contra grupos judeus ortodoxos que se opunham alei de direitos gays.
O jornalista Celso Curi inaugura uma coluna diária no jornal Última Hora de São Paulo chamada “Coluna do Meio” para tratar de assuntos e fofocas sobre gays nacionais e internacionais. A coluna se tornou muito popular e Celso foi chamado de o primeiro porta-voz dos homossexuais brasileiros. ⁴
Duas revistas gays alemãs, HAW-Info e Emanzipation publicam simultaneamente artigos de capa sobre a perseguição de homossexuais durante o holocausto. O artigo da HAW-Info encoraja gays a continuarem vestindo o triângulo rosa como um símbolo da discriminação continuamente sofrida pelos gays.
Aconteciam as “rondas” da polícia militar no centro de São Paulo, que utilizava a Lei de Vadiagem para prender travestis e prostitutas que não mostrassem carteira assinada, em uma tentativa de reprimir a prostituição. As rondas tinham o apoio mediático do Jornal A Folha de São Paulo. ⁸
Quando Harvey Milk discursou sobre gays no holocausto o triângulo rosa apareceu na imprensa de língua inglesa e em protestos de ativistas gays nos EUA.
É criado em São Paulo e Rio de Janeiro o Jornal O Lampião da Esquina, publicado mensalmente durante 3 anos, com tiragem média de 20.000 exemplares em circulação nacional. O jornal tratava de forma franca e aberta sobre questões das bichas (primordialmente), travestis e lésbicas sem ignorar muitas vezes a interseccionalidade de raça e classe social.
Para acessar as edições do jornal clique aqui.
Após anos de repressão durante a ditadura militar, no final dos anos 70, com o “abrandamento” da ditadura, grupos ativistas LGBT voltam a se organizar. A partir de articulações dos membros do Jornal O Lampião da Esquina é criado o grupo ativista SOMOS: Grupo de Ação Homossexual. O nome do grupo é uma homenagem ao jornal de ativismo bicha de Buenos Aires. ⁹
É apresentada moção em favor dos homossexuais no Encontro de Convergência Socialista falando da emergência em incluir os temas de dissidentes sexuais em um ambiente então considerado apenas para machos. ¹⁰
A ativista Miriam Martinho funda o primeiro grupo Lésbico-Feminista, que logo daria origem ao GALF – Grupo de Ação Lésbico-Feminista e ao jornal Chanacomchana. ¹¹
O espetáculo da Broadway Bent, de Martin Sherman, conta de dois prisioneiros alemães gays em um campo de concentração, onde um deles trocou seu triângulo rosa por uma estrela amarela para evitar o tratamento ainda mais duro dado aos que vestiam o triângulo rosa.
Em junho de 1980, travestis e prostitutas realizam protesto no centro de São Paulo, contra as intermináveis rondas violentas do delegado Richetti. Foi queimado um boneco de três metros de altura representando o delegado. ⁸
É lançado oficialmente o Movimento de Arte Pornô, coletivo de corpos nus que promoviam novas formas de ação política ao desprender a arte e a literatura de seus espaços convencionais para transformá-los em uma ferramenta de provocação em espaços públicos. ¹²
Nas celebrações do dia 1 de maio, dia do trabalho, 50 gays e lésbicas marcham pela primeira vez em São Paulo em solidariedade aos trabalhadores em greve erguendo faixas que diziam “Contra a intervenção nos sindicatos do ABC” e “Contra a discriminação do/a trabalhador/a homossexual”. ¹³
Os primeiros relatos sobre AIDS se tornam conhecidos do público, e escritores e ativistas encontraram no triângulo rosa o emblema mais apropriado para representar o sofrimento.
A Noruega se torna o primeiro país do mundo a ter uma lei que previne discriminacão contra homossexuais.
O Grupo de Ação Lésbica Feminista (GALF) de São Paulo lança o jornal CHANACOMCHANA para tratar de questões lésbicas. Diz o jornal: “A palavra Chana não pode ser definida conto orgão sexual feminino. É algo tão mais amplo quanto os contrapontos de existir. É chama, é chance, é chanca” A publicação durou seis anos. ¹⁴
Em agosto de 1983 o dono do Ferro’s Bar em São Paulo, expulsou as ativistas do GALF (Grupo de Ação Lésbica Feminista) e proibiu a venda do jornal ChanacomChana. Com o apoio da imprensa, ativistas gays e políticos as meninas se reuniram em frente ao bar para protestar e ocupar o local. Com este gesto, e o dono voltou a permitir a venda. O ato foi apelidado pelo Jornal O Lampião da Esquina como “nosso pequeno Stonewall” e em 2003 o 19 de agosto foi decretado como o Dia Nacional do Orgulho Lésbico. ¹⁵
No carnaval, um grupo de homossexuais forma a Banda Carmem Miranda, uma dissidência da Banda de Ipanema, para desfilar trajes extravagantes como manifestações do orgulho gay. ⁴
O primeiro reconhecimento oficial mostrado na Áustria, em Mauthausen, antigo campo de concentração, permitiu que uma organização gay colocasse uma placa no local que mostrava um triângulo rosa e as palavras “Espancado até a morte – silenciado até a morte”.
Criado em São Paulo o GAPA – Grupo de Apoio à Prevenção a ADIS, primeira ONG a tratar da questão no Brasil. ¹⁶
Imagem: Wikimedia Commons
Seis ativistas gays criaram em Nova Iorque o projeto “Silêncio=morte” que usava um triângulo rosa invertido em seus cartazes. Estes ativistas logo se juntaram ao ACT UP (Coalizão pela AIDS para Liberação do Poder), organização fundada no mesmo ano, e ofereceram o logo com símbolo. O triângulo rosa foi utilizado pelo ACT UP com o lado certo para cima para mostrar sua determinação em sobreviver a epidemia de AIDS.
Naquele mesmo ano, os cartazes preto e rosa “silêncio=morte” começaram a aparecer colados em muros ao redor da cidade. Até então, 49.000 casos de AIDS, a maioria delas entre homens gays, já haviam sido diagnosticados e reportados ao Centro de Controle de Doenças. Mais de 43.000 destes casos resultaram em mortes naquele mesmo ano, sendo que 25% deles eram nova-iorquinos.
Em um discurso no campo de concentração de Dachau, um grupo de lésbicas ativistas anuncia que mulheres lésbicas foram forcadas a usar triângulos pretos e assim como homens gays, elas foram colocadas nos níveis mais baixos nos campos de concentração.
A Dinamarca se torna o primeiro país a vigorar leis de reconhecimento de uniões civis.
Imagem: Ludovic Bertron
O triângulo rosa é substituído pelo arco-íris, que se tornaria o mais popular emblema para o “orgulho gay”.
É criada no Rio de Janeiro, a ASTRAL – Associação de Travestis e Liberados, primeira associação de travestis do Brasil para tratar de questões relativas a HIV/ AIDS e em 1994 é organizado o I Encontro Nacional de Travestis, que deu origem a Parada da Diversidade, precursora das grandes paradas LGBT dos anos seguintes. FIGARI, Carlos. Os Outros Cariocas – Interpelações, experiiencias e identidades homoeróticas no Rio de Janeiro séculos XVII ao XX. Rio de Janeiro; IUPERJ, 2007.
É lançado o Diálogo de Bonecas, primeiro dicionário de bajubá para as travestis brasileiras idealizado por Jovana Baby da ASTRAL – Associação de Travestis e Liberados.
https://issuu.com/jovannacardoso/docs/cartilha_di_logo_de_bonecas
A revista gay “10 percent” critica o uso do triângulo rosa como um símbolo gay, provocando acalorados debates entre seus leitores que acreditavam que o tratamento dos gays durante a epidemia de AIDS não estaria muito distante do tratamento dado no holocausto.
A política do exército norte americano “não pergunte, não conte” é implementada, permitindo que gays sirvam o exército mas banindo atividades homossexuais. A proposta do presidente Clinton de revogar esta regra encontrou forte oposição; como resultado milhares de homens e mulheres foram expulsos da corporação.
Em junho de 1994 o coletivo de artistas de Nova Iorque REPOhistory instalou por Manhattan uma série de triângulos rosas em postes de luz como se fossem sinais de transito, referenciando a histórias gays, lésbicas e trans que são esquecidas.
Desde a parada do orgulho gay de 1995, a organização Triângulo Rosa de São Francisco instala um triângulo rosa gigante no topo do twin peaks para relembrar homossexuais vítimas do holocausto.
É produzido o documentário Paragraph 175, contando histórias de alguns homossexuais sobreviventes do holocausto.
São Paulo é palco da maior parada gay do mundo, com mais de 1,8 milhões de pessoas em sua oitava edição. Em 2012 o público estimado pela organização era de 4,5 milhões de pessoas. ¹⁷
A Igreja da Suécia, antiga igreja do estado, decide abençoar a união de casais do mesmo sexo, que já podem registrar seu relacionamento como união civil.
Em resposta a vasta documentação de abusos, um grupo internacional de especialistas em direitos humanos se reúne em Yogyakarta, Indonésia para escrever uma série de princípios internacionais relativos a orientação sexual e identidade de gênero. O resultado se deu no Princípios de Yogyakarta: um guia universal de direitos humanos que afirma padrões legais internacionais a serem cumpridos por todos os países.
Eleitores da Califórnia votam pela Proposta 8 que elimina o direito de casais de o mesmo sexo a se casarem. Em 26 de maio de 2009 A Suprema Corte da Califórnia confirmou a Proposta 8, mas não cancelou os casamentos que aconteceram anteriormente.
Noruega, Islândia, Portugal e Argentina legalizam o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
É eleito o primeiro deputado federal abertamente gay do Brasil, Jean Wyllys. Nos dois mandatos que cumpriu desde então o deputado se dedica a lutar por questões de direitos humanos de minorias. ¹⁸
Imagem: Jean-Luc SCHWAB
Morre aos 98 anos o último sobrevivente do holocausto a usar o triângulo rosa, Rudolf Brazda.
O casamento igualitário é legalizado em Nova Iorque e a política do “não pergunte, não conte” é revogada nos Estados Unidos.
Na Rússia, manifestações em defesa da homossexualidade que possam influenciar crianças são tornadas ilegais e sujeitas a multas para quem expõem: “ações públicas com objetivo de propaganda da sodomia, lesbianismo, bisexualidade e transgenerismo entre menores de idade”.
Uma resolução sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo é aprovada pelo Supremo Tribunal Federal, impedindo que cartórios de todo Brasil se recusem a celebrar casamentos civis entre casais do mesmo sexo. ¹⁹
No dia 26 de junho, A Suprema Corte norte-americana considera inconstitucional a seção 3 do Ato de Defesa ao Casamento de 1996 que nega legalmente o casamento de pessoas do mesmo sexo através de 1.100 proteções e responsabilidades do casamento.
Uganda realiza sua primeira parada do orgulho gay com o fim da severa lei anti-homossexual que os ameaçava com pena de morte, abolida pela justiça, causando comoção nacional e internacional.
É lançado o livro Ditadura e Homossexualidades – repressão, resistência e a busca da verdade, um desdobramento da Comissão da Verdade, para investigar os crimes cometidos contra a população LGBT durante a ditadura militar no Brasil.
Imagem: Derek Mangabeira / I Hate Flash
Acontece em outubro, no Rio de Janeiro a Nova Parada LGBT, independente e sem qualquer apoio institucional para demandar dos candidatos a presidente posições claras quanto a questões urgentes da população LGBT e das mulheres. A Nova Parada aconteceu no mesmo dia em que aconteceria a parada “oficial” mas que por razões políticas foi cancelada. ²⁰
Carlos Motta
A cronologia Forma da Liberdade recompila a história do triângulo rosa e outros emblemas de movimentos pelos direitos homossexuais no Brasil, Estados Unidos e Europa. São incluídos eventos importantes da história do ativismo homossexual, com ênfase no triângulo rosa como símbolo de liberação sexual. Pesquisa e compilação internacional por Carlos Motta e brasileira por Guilherme Altmayer.
“Os poderes mortos estão por todo lado – na floresta, cortando as canções; a noite na paisagem industrial, desperdiçando e endurecendo a nova vida; nas ruas da cidade, jogando fora o dia. Queríamos algo diferente para nossa gente: não encontrar uma velha e reacionária república, cheia de medos fantasmagóricos, medos da morte e medos de nascer. Queremos algo diferente” Muriel Rukeyser, A vida de poesia
Uma forma geométrica básica: um polígono de três lados ou vértices e três lados ou cantos, segmentos de linha.
Um emblema: uma imagem pictórica, abstrata ou representacional, que representa um conceito, como uma verdade moral ou uma alegoria.
Um símbolo: algo que representa uma ideia mas é distinto dela e sua proposta é comunicar significado.
Triângulo: uma forma, um emblema, e um símbolo de opressão e liberação: uma forma de liberdade.
A prática da sodomia e sua condenação (1530) é trazida por colonizadores europeus para o Brasil. A prática encontra aqui terreno fértil pois era grande a liberdade nas práticas sexuais dos povos nativos.1 FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Recife: Global Editora, 2003. pg. 210.
O Brasil descriminaliza a prática do sexo anal criminalizada por Portugal em 1530, ao não incluir no código penal do Império do Brasil qualquer referência a sodomia. 2https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_da_hist%C3%B3ria_LGBT
Em 29 de agosto de 1867, Karl-Heinrich Ulrichs se torna o primeiro homossexual a se proclamar como tal e falar publicamente sobre direitos homossexuais ao reivindicar ao congresso alemão de juristas em Munique por uma anulação das leis anti-homossexuais.
É publicada a obra Bom Criolo, o primeiro romance homossexual do mundo ocidental. Escrito por Adolfo Caminha, a novela trata da difícil relação entre dois membros da marinha, um negro foragido da escravidão e um grumete branco.
Fonte: Acervo Sânzio de Azevedo
Nasce João Francisco dos Santos ou Madame Satã. Negro, pobre e assumidamente homossexual, morava e trabalhava como performista, cozinheiro e segurança na boêmia região da Lapa no Rio de Janeiro. Foi preso diversas vezes por furto, ultraje público ao pudor e porte de arma. 3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Madame_Satã
A ativista norte-americana Emma Goldman é a primeira a falar publicamente a favor de direitos homossexuais em seus discursos e textos.
É fundada em Chicago a Sociedade de Direitos Humanos, primeira organização pelos direitos dos homossexuais. O movimento existiu por alguns meses antes de ser fechado pela polícia.
É criada uma divisão secreta da polícia alemã para tratar com homossexuais. Um dos seus primeiros atos foi demandar “listas rosas” ao redor da Alemanha. Estas listas, que revelavam nomes de homossexuais masculinos, são compiladas desde 1900.
O parágrafo 175 do código criminal alemão, que condenava práticas homossexuais, foi revisado por Adolf Hitler para incluir beijos, abraços, fantasias gays e atos sexuais entre homens.
25,000 gays condenados são presos forçadamente e levados a campos de concentração onde foram obrigados a usar um triângulo rosa invertido em seu uniforme. Durante os 12 anos do regime nazista, ao redor de 100.000 homens foram identificados em registros policiais como homossexuais, sendo 50.000 deles condenados por violar o parágrafo 175. Se fossem judeus gays, o nível mais baixo nos campos, eles usavam o triângulo invertido sobre a estrela de davi amarela.
Hitler determina a morte como punição a homossexuais.
Rudolf Klimmer, defensor radical dos direitos homossexuais na Alemanha Oriental pressiona a Organização dos Perseguidos pelo Regime Nazista para reconhecer as vítimas homossexuais e mais tarde conseguiu que fossem compensados pelo governo da Alemanha Oriental.
Formado na Dinamarca o grupo homofílico Forbundet af 1948 (Liga de 1948)
Nas décadas de 1950 e 1960 no Rio de Janeiro e São Paulo, encontros homossexuais aconteciam nas chamadas turmas, reuniões secretas em apartamentos para socialização e transformismo. A Turma OK, ainda em funcionamento no Rio de Janeiro, é hoje um clube para socialização e espetáculos transformistas. 4GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX
Imagem: flâmula do clube social Turma OK
Fundado em Los Angeles The Mattachine Society, o primeiro grupo homofílico norte-americano. Em São Francisco é fundado o The Daughters of Bilitis, organizacão lésbica nacional pioneira. É formado o RFSL (Federacão Sueca para direitos das lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) na Suécia.
A polícia do Rio de Janeiro proíbe o uso de “fantasia de travesti”. No carnaval de 1964, a polícia agride foliões com golpes de cassetete na entrada de bailes que reuniam travestis. Em 1968 espetáculos com “travestidos” são proibidos e reprimidos, deixando muitas travestis desempregadas. 5 RODRIGUES, Rita de Cassia Colaço. De Denner a Chrysóstomo, a repressão invisibilizada. IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014
Criado no Rio de Janeiro o jornal Snob repleto de ilustrações, fofocas, contos e entrevistas com famosas travestis. O jornal circulou até 1969, quando se intensificou a repressão da ditadura militar. 6GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000
A Galeria Metrópole, reduto bicha no centro de São Paulo é cercada pela polícia, que prende todas as pessoas que lá se encontravam. 7PERLONGHER, Nestor, O negócio do Michê – prostituição viril em São Paulo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987
O semanal alemão Der Spiegel dá capa ao tema da reforma criminal do Parágrafo 175, que descriminalizou atos homossexuais para pessoas acima de 21 anos.
Em junho de 1969, a polícia invadiu o bar Stonewall Inn em Nova Iorque, checou identidades dos presentes, fez comentários homofóbicos e transfóbicos e agrediu fisicamente membros da comunidade LGBT. Ao invés de aceitar calados, a comunidade reagiu. Este foi um dos primeiros levantes LGBTs nos EUA, e durou quase três dias.
Nos anos 1970, a língua de origem africana pajubá ou bajubá começa a ser usada pelas travestis em vários lugares no Brasil como meio de enfrentar a repressão policial durante a ditadura militar e despistar a presença de pessoas indesejadas. 8http://www.lupa.facom.ufba.br/2009/06/voce-sabe-o-que-e-pajuba/
Memórias da perseguição nazista aos homossexuais são relembradas no contexto político dos anos de liberação gay. Lésbicas compartilharam suas memórias do triângulo rosa e perseguição gay e tiveram um papel importante na recontextualização do triângulo rosa como símbolo de orgulho e libertação.
Acontece em Nova Iorque a Primeira Marcha do Dia da Liberação Gay, o Primeiro Day da Liberdade Gay em Los Angeles e São Francisco.
Na Berlin Ocidental um grupo de jovens gays frustrados formam a Ação Gay da Berlim Ocidental (HAW), a primeira organização radical do movimento gay alemão. Seu emblema era um punho cerrado dentro de um triângulo rosa.
O grupo Dzi Croquettes estreia espetáculo no Rio de Janeiro. O grupo se tornou notório por seu desprendimento às normas binárias de gênero com muita purpurina, mescla de vestuários masculinos e femininos, barbas, bigodes, tangas, desenhos psicodélicos, grandes cílios e bocas exageradas. 9GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000
Josef Kohout publica na Alemanha O Homem Com o Triângulo Rosa utilizando o pseudônimo Heinz Heger.
A Suécia se torna o primeiro país do mundo a permitir pessoas transgênero a redesignação de sexo e acesso gratuito ao tratamento hormonal.
1973
O grupo Secos & Molhados, liderado por Ney Matogrosso, lança seu primeiro disco. Com figurinos e maquiagem audaciosos e erotizados, Ney cria novas formas de afirmação do corpo e confunde os limites de gênero. 10 GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000
Agosto de 1974
Ativistas nova iorquinos vestem triângulos rosas e protestam no conselho municipal contra grupos judeus ortodoxos que se opunham alei de direitos gays.
1975
O jornalista Celso Curi inaugura uma coluna diária no jornal Última Hora de São Paulo chamada “Coluna do Meio” para tratar de assuntos e fofocas sobre gays nacionais e internacionais. A coluna se tornou muito popular e Celso foi chamado de o primeiro porta-voz dos homossexuais brasileiros. 11 GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000
1975
Duas revistas gays alemãs, HAW-Info e Emanzipation publicam simultaneamente artigos de capa sobre a perseguição de homossexuais durante o holocausto. O artigo da HAW-Info encoraja gays a continuarem vestindo o triângulo rosa como um símbolo da discriminação continuamente sofrida pelos gays.
1976-1982
Aconteciam as “rondas” da polícia militar no centro de São Paulo, que utilizava a Lei de Vadiagem para prender travestis e prostitutas que não mostrassem carteira assinada, em uma tentativa de reprimir a prostituição. As rondas tinham o apoio mediático do Jornal A Folha de São Paulo. 12 OCANHA, Rafael Freitas. As rondas policiais de combate à homossexualidade na cidade de São Paulo (1976-1982). IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014
1978
Quando Harvey Milk discursou sobre gays no holocausto o triângulo rosa apareceu na imprensa de língua inglesa e em protestos de ativistas gays nos EUA.
1978
É criado em São Paulo e Rio de Janeiro o Jornal O Lampião da Esquina, publicado mensalmente durante 3 anos, com tiragem média de 20.000 exemplares em circulação nacional. O jornal tratava de forma franca e aberta sobre questões das bichas (primordialmente), travestis e lésbicas sem ignorar muitas vezes a interseccionalidade de raça e classe social.
Para acessar as edições do jornal clique aqui.
1978
Após anos de repressão durante a ditadura militar, no final dos anos 70, com o “abrandamento” da ditadura, grupos ativistas LGBT voltam a se organizar. A partir de articulações dos membros do Jornal O Lampião da Esquina é criado o grupo ativista SOMOS: Grupo de Ação Homossexual. O nome do grupo é uma homenagem ao jornal de ativismo bicha de Buenos Aires. 13FIGARI, Carlos. Os Outros Cariocas – Interpelações, experiiencias e identidades homoeróticas no Rio de Janeiro séculos XVII ao XX. Rio de Janeiro; IUPERJ, 2007.
1978
É apresentada moção em favor dos homossexuais no Encontro de Convergência Socialista falando da emergência em incluir os temas de dissidentes sexuais em um ambiente então considerado apenas para machos. 14 TREVISAN, João Silverio. Estão querendo convergir, para onde? Disponível em: http://www.grupodignidade.org.br/wp-content/uploads/2015/11/06-LAMPIAO-DA-ESQUINA-EDICAO-02-JUNHO-JULHO-1978.pdf. Acessado em 01/05/2016.
1979
A ativista Miriam Martinho funda o primeiro grupo Lésbico-Feminista, que logo daria origem ao GALF – Grupo de Ação Lésbico-Feminista e ao jornal Chanacomchana. 15 https://en.wikipedia.org/wiki/M%C3%ADriam_Martinho
1980
O espetáculo da Broadway Bent, de Martin Sherman, conta de dois prisioneiros alemães gays em um campo de concentração, onde um deles trocou seu triângulo rosa por uma estrela amarela para evitar o tratamento ainda mais duro dado aos que vestiam o triângulo rosa.
1980
Em junho de 1980, travestis e prostitutas realizam protesto no centro de São Paulo, contra as intermináveis rondas violentas do delegado Richetti. Foi queimado um boneco de três metros de altura representando o delegado. 16OCANHA, Rafael Freitas. As rondas policiais de combate à homossexualidade na cidade de São Paulo (1976-1982). IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014
1980
É lançado oficialmente o Movimento de Arte Pornô, coletivo de corpos nus que promoviam novas formas de ação política ao desprender a arte e a literatura de seus espaços convencionais para transformá-los em uma ferramenta de provocação em espaços públicos. 17NOGUEIRA, Fernanda COSTA, Pêdra. Da Pornochanchada ao Pós-terrorismo no Brasil, 2015. https://medium.com/revista-rosa-5/da-pornochanchada-ao-pos-porno-terrorismo-no-brasil-das-cangaceiras-eroticas-ao-coletivo-coiote-f0f4ab92836
1980
Nas celebrações do dia 1 de maio, dia do trabalho, 50 gays e lésbicas marcham pela primeira vez em São Paulo em solidariedade aos trabalhadores em greve erguendo faixas que diziam “Contra a intervenção nos sindicatos do ABC” e “Contra a discriminação do/a trabalhador/a homossexual”. 18GREEN, James. O grupo Somos, a esquerda e a resistência a ditadura. IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014
1981
Os primeiros relatos sobre AIDS se tornam conhecidos do público, e escritores e ativistas encontraram no triângulo rosa o emblema mais apropriado para representar o sofrimento.
1981
A Noruega se torna o primeiro país do mundo a ter uma lei que previne discriminacão contra homossexuais.
1981
O Grupo de Ação Lésbica Feminista (GALF) de São Paulo lança o jornal CHANACOMCHANA para tratar de questões lésbicas. Diz o jornal: “A palavra Chana não pode ser definida conto orgão sexual feminino. É algo tão mais amplo quanto os contrapontos de existir. É chama, é chance, é chanca” A publicação durou seis anos. 19 LAMPIÃO DA ESQUINA, ed. 34 1981. http://www.grupodignidade.org.br/wp-content/uploads/2015/11/38-LAMPIAO-DA-ESQUINA-EDICAO-34-MARCO-1981.pdf.
1983
Em agosto de 1983 o dono do Ferro’s Bar em São Paulo, expulsou as ativistas do GALF (Grupo de Ação Lésbica Feminista) e proibiu a venda do jornal ChanacomChana. Com o apoio da imprensa, ativistas gays e políticos as meninas se reuniram em frente ao bar para protestar e ocupar o local. Com este gesto, e o dono voltou a permitir a venda. O ato foi apelidado pelo Jornal O Lampião da Esquina como “nosso pequeno Stonewall” e em 2003 o 19 de agosto foi decretado como o Dia Nacional do Orgulho Lésbico. 20FERNANDES, Marisa – Lésbicas e a ditadura Militar. IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014
1984
No carnaval, um grupo de homossexuais forma a Banda Carmem Miranda, uma dissidência da Banda de Ipanema, para desfilar trajes extravagantes como manifestações do orgulho gay. 21 GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000
1985
O primeiro reconhecimento oficial mostrado na Áustria, em Mauthausen, antigo campo de concentração, permitiu que uma organização gay colocasse uma placa no local que mostrava um triângulo rosa e as palavras “Espancado até a morte – silenciado até a morte”.
1985
Criado em São Paulo o GAPA – Grupo de Apoio à Prevenção a ADIS, primeira ONG a tratar da questão no Brasil. 22FIGARI, Carlos. Os Outros Cariocas – Interpelações, experiiencias e identidades homoeróticas no Rio de Janeiro séculos XVII ao XX. Rio de Janeiro; IUPERJ, 2007.
1987
Seis ativistas gays criaram em Nova Iorque o projeto “Silêncio=morte” que usava um triângulo rosa invertido em seus cartazes. Estes ativistas logo se juntaram ao ACT UP (Coalizão pela AIDS para Liberação do Poder), organização fundada no mesmo ano, e ofereceram o logo com símbolo. O triângulo rosa foi utilizado pelo ACT UP com o lado certo para cima para mostrar sua determinação em sobreviver a epidemia de AIDS.
Naquele mesmo ano, os cartazes preto e rosa “silêncio=morte” começaram a aparecer colados em muros ao redor da cidade. Até então, 49.000 casos de AIDS, a maioria delas entre homens gays, já haviam sido diagnosticados e reportados ao Centro de Controle de Doenças. Mais de 43.000 destes casos resultaram em mortes naquele mesmo ano, sendo que 25% deles eram nova-iorquinos.
Imagem: Wikimedia Commons
1987
Em um discurso no campo de concentração de Dachau, um grupo de lésbicas ativistas anuncia que mulheres lésbicas foram forcadas a usar triângulos pretos e assim como homens gays, elas foram colocadas nos níveis mais baixos nos campos de concentração.
1989
A Dinamarca se torna o primeiro país a vigorar leis de reconhecimento de uniões civis.
Início dos 1990s
O triângulo rosa é substituído pelo arco-íris, que se tornaria o mais popular emblema para o “orgulho gay”.
Imagem: Ludovic Bertron
1992
É criada no Rio de Janeiro, a ASTRAL – Associação de Travestis e Liberados, primeira associação de travestis do Brasil para tratar de questões relativas a HIV/ AIDS e em 1994 é organizado o I Encontro Nacional de Travestis, que deu origem a Parada da Diversidade, precursora das grandes paradas LGBT dos anos seguintes. FIGARI, Carlos. Os Outros Cariocas – Interpelações, experiiencias e identidades homoeróticas no Rio de Janeiro séculos XVII ao XX. Rio de Janeiro; IUPERJ, 2007.
1992
É lançado o Diálogo de Bonecas, primeiro dicionário de bajubá para as travestis brasileiras idealizado por Jovana Baby da ASTRAL – Associação de Travestis e Liberados.
1993
A revista gay “10 percent” critica o uso do triângulo rosa como um símbolo gay, provocando acalorados debates entre seus leitores que acreditavam que o tratamento dos gays durante a epidemia de AIDS não estaria muito distante do tratamento dado no holocausto.
1993
A política do exército norte americano “não pergunte, não conte” é implementada, permitindo que gays sirvam o exército mas banindo atividades homossexuais. A proposta do presidente Clinton de revogar esta regra encontrou forte oposição; como resultado milhares de homens e mulheres foram expulsos da corporação.
1994
Em junho de 1994 o coletivo de artistas de Nova Iorque REPOhistory instalou por Manhattan uma série de triângulos rosas em postes de luz como se fossem sinais de transito, referenciando a histórias gays, lésbicas e trans que são esquecidas.
1995
Desde a parada do orgulho gay de 1995, a organização Triângulo Rosa de São Francisco instala um triângulo rosa gigante no topo do twin peaks para relembrar homossexuais vítimas do holocausto.
2000
É produzido o documentário Paragraph 175, contando histórias de alguns homossexuais sobreviventes do holocausto.
2004
São Paulo é palco da maior parada gay do mundo, com mais de 1,8 milhões de pessoas em sua oitava edição. Em 2012 o público estimado pela organização era de 4,5 milhões de pessoas.23 https://pt.wikipedia.org/wiki/Parada_do_orgulho_LGBT_de_S%C3%A3o_Paulo#P.C3.BAblico_presente
2005
A Igreja da Suécia, antiga igreja do estado, decide abençoar a união de casais do mesmo sexo, que já podem registrar seu relacionamento como união civil.
2006
Em resposta a vasta documentação de abusos, um grupo internacional de especialistas em direitos humanos se reúne em Yogyakarta, Indonésia para escrever uma série de princípios internacionais relativos a orientação sexual e identidade de gênero. O resultado se deu no Princípios de Yogyakarta: um guia universal de direitos humanos que afirma padrões legais internacionais a serem cumpridos por todos os países.
2008-2009
Eleitores da Califórnia votam pela Proposta 8 que elimina o direito de casais de o mesmo sexo a se casarem. Em 26 de maio de 2009 A Suprema Corte da Califórnia confirmou a Proposta 8, mas não cancelou os casamentos que aconteceram anteriormente.
2009-2010
Noruega, Islândia, Portugal e Argentina legalizam o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
2010
É eleito o primeiro deputado federal abertamente gay do Brasil, Jean Wyllys. Nos dois mandatos que cumpriu desde então o deputado se dedica a lutar por questões de direitos humanos de minorias. 24 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Wyllys.
Agosto de 2011
Morre aos 98 anos o último sobrevivente do holocausto a usar o triângulo rosa, Rudolf Brazda.
Imagem: Jean-Luc SCHWAB
2011
O casamento igualitário é legalizado em Nova Iorque e a política do “não pergunte, não conte” é revogada nos Estados Unidos.
2012 – 2013
Na Rússia, manifestações em defesa da homossexualidade que possam influenciar crianças são tornadas ilegais e sujeitas a multas para quem expõem: “ações públicas com objetivo de propaganda da sodomia, lesbianismo, bisexualidade e transgenerismo entre menores de idade”.
2013
Uma resolução sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo é aprovada pelo Supremo Tribunal Federal, impedindo que cartórios de todo Brasil se recusem a celebrar casamentos civis entre casais do mesmo sexo. 25 http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNewsletter.php?sigla=newsletterPortalInternacionalDestaques&idConteudo=23851
2013
No dia 26 de junho, A Suprema Corte norte-americana considera inconstitucional a seção 3 do Ato de Defesa ao Casamento de 1996 que nega legalmente o casamento de pessoas do mesmo sexo através de 1.100 proteções e responsabilidades do casamento.
2014
Uganda realiza sua primeira parada do orgulho gay com o fim da severa lei anti-homossexual que os ameaçava com pena de morte, abolida pela justiça, causando comoção nacional e internacional.
2014
É lançado o livro Ditadura e Homossexualidades – repressão, resistência e a busca da verdade, um desdobramento da Comissão da Verdade, para investigar os crimes cometidos contra a população LGBT durante a ditadura militar no Brasil.
2014
Acontece em outubro, no Rio de Janeiro a Nova Parada LGBT, independente e sem qualquer apoio institucional para demandar dos candidatos a presidente posições claras quanto a questões urgentes da população LGBT e das mulheres. A Nova Parada aconteceu no mesmo dia em que aconteceria a parada “oficial” mas que por razões políticas foi cancelada. 26http://ihateflash.net/zine/nova-parada-lgbt-do-rj
Imagem: Derek Mangabeira / I Hate Flash
2014
Acontece em novembro, em São Paulo, a Revolta da Lâmpada. Uma marcha que aconteceu no mesmo local da Avenida Paulista onde 4 anos antes três bichas foram agredidas com lâmpadas fluorescentes. 27https://catracalivre.com.br/sp/muito-mais-sao-paulo/gratis/revolta-da-lampada-protesto-contra-homofobia-e-pela-liberdade-do-corpo
2015
O projeto PL122 que criminaliza a LGBTfobia, nos mesmos moldes dos crimes de racismo é arquivado pelo Senado Brasileiro após tramitar pelas casas parlamentares desde 2001. Portanto LGBT segue sendo um crime não passível de punição. 28 Disponível em: http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/01/07/projeto-que-criminaliza-homofobia-sera-arquivado
2016
O deputado Jean Wyllys, defensor das causas LGBTs, cospe na cara do deputado fascista, homofóbico, racista e misógino Jair Bolsonaro, durante votação pela aceitação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
2016
É criada a CasaNem, idealizada por Indianare Siqueira, que acolhe pessoas LGBTI em estado de extrema vulnerabilidade na Lapa, Rio de Janeiro. No espaço também são oferecidos cursos de capacitação e o PreparaNem, curso preparatório para o exame do ENEM, para ingresso a universidade.
Imagem: olharnegrotrans
2016
No dia 12 de junho um homem armado, Omar Mateen, entrou no clube noturno The Pulse em Orlando na Flórida, e matou 49 pessoas. Este crime de ódio contra a comunidade LGBTQ é também o maior massacre na história dos Estados Unidos.
2017
É aberta em São Paulo a Casa 1, projeto de acolhida a pessoas LGBTIs expulsas de casa e em estado de vulnerabilidade. O espaço, idealizado por Iran Giusti, oferece cursos de capacitação e eventos culturais de afirmação dos corpos transviados.29https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/grupo-inaugura-casa-para-abrigar-gays-expulsos-pelas-familia-em-sp.ghtml
2017
Ao longo dos anos 2010 acontecem dezenas de encontros e mostras artísticas LGBTI/cuir e transfeministas no Brasil. Uma delas, o Queermuseu, é censurada pelo Santander Cultural em Porto Alegre por pressão de grupos ultraconservadores e do prefeito da cidade. Através de mobilização e financiamento coletivo, a mostra reabre no ano seguinte, em 2018, na Escola de Artes Visuais Parque Lage.30Fechamento: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/11/politica/1505164425_555164.html Reabertura: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45191250
2018
A socióloga ativista lésbica feminista e vereadora Marielle Franco é brutalmente assassinada no Rio de Janeiro. Um crime político que continua sem resposta: Quem mandou matar Marielle?31https://www.geledes.org.br/marielle-franco-foi-assassinada-na-noite-desta-quarta-14-no-centro-do-rio-aos-38-anos-principal-suspeita-e-execucao/
2018
Organização Mundial de Saúde decide retirar a transgeneridade da lista de doença mental, mas mantém dentro da classificação para que as pessoas possam seguir solicitando ajuda médica se desejar.32https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/18/internacional/1529346704_000097.html
2018
A mostra Queermuseu é aberta na Escola de Artes Visuais Parque Lage no Rio de Janeiro com Forum paralelo organizado pela escola.
2018
O Supremo Tribunal Federal reconhece, por unanimidade, que pessoas trans podem alterar nome e gênero sem a necessidade de cirurgia de redesignação.33https://www.conjur.com.br/2018-mar-01/stf-autoriza-trans-mudar-nome-cirurgia-ou-decisao-judicial
2018
As sementes de Marielle: quatro mulheres negras, amigas de Marielle, são eleitas deputadas: Talíria Petrone (federal), e Renata Souza, Mônica Francisco e Dani Monteiro, que trabalhavam como assessoras da vereadora, deputadas estaduais.34https://www.huffpostbrasil.com/2018/10/10/as-sementes-de-marielle-franco-quem-sao-as-mulheres-negras-eleitas-em-2018_a_23557207/
2018
A mostra Corpos Visíveis, e o espetáculo O evangelho segundo Jesus, rainha do céu, espetáculo da atriz travesti Renata Carvalho, é censurada pelo pastor evangélico e prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. A organização da mostra resiste e mobiliza o público para um financiamento coletivo, e o encontro acontece no espaço Fundição Progresso na Lapa.35https://theintercept.com/2018/06/05/crivella-censura-jesus-trans/
2018
Brasileiros elegem um presidente de extrema direita que entre muitas violências discursivas, faz afirmações como: “o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, leva um couro e muda o comportamento dele”, “a sociedade brasileira não gosta de homossexuais”. Refere-se ao peso de negros quilombolas por arroba: “Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais.” e as mulheres no mercado de trabalho: “Por isso o cara paga menos para a mulher (porque ela engravida)” 36https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-em-25-frases-polemicas/
2019
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil lança orientação ideológica para frisar que gênero é apenas sexo biológico, alegando retomada da “definição tradicional”. O gesto é um ataque direto para invisibilizar pessoas trans/ travestis.37Disponível em: https://jamilchade.blogosfera.uol.com.br/2019/06/27/brasil-veta-termo-genero-em-resolucoes-da-onu-e-cria-mal-estar/
2019
O Supremo Tribunal Federal brasileiro determina que homolesbobitransbofia é crime, nos mesmos moldes do racismo. O processo tramita no Congresso brasileiro há 18 anos sem evolução. O presidente Jair Bolsonaro critica a decisão alegando que ficará difícil para homossexuais encontrarem emprego.38http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=414010
2022
O ActUp Nova Iorque marcha para alertar sobre a epidemia da varíola do macaco e a falta de ação do governo estadunidense com relação as vacinas. 39https://www.instagram.com/p/CgMwDBguag6/?utm_source=ig_web_copy_link
Informação compilada por Guilherme Altmayer (Brasil) e Carlos Motta (Internacional).
Para ver demais referências referencias bibliográficas internacionais visite: http://carlosmotta.com/project/shape-of-freedom
Esta é uma edição ampliada e continuada de Forma da Liberdade do artista Carlos Motta, e fez parte da exposição O que vem com a aurora curada por Bernardo Mosqueira para a Galeria Casa Triângulo em São Paulo (2016), da Bienal de São Paulo 2016 – Incerteza Viva, da mostra Os Corpos são as Obras na Despina no Rio de Janeiro (agosto 2017) e de Histórias da Sexualidade no MASP em São Paulo (2017).
notas [ + ]
1. | ⇧ | FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Recife: Global Editora, 2003. pg. 210. |
2. | ⇧ | https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_da_hist%C3%B3ria_LGBT |
3. | ⇧ | https://pt.wikipedia.org/wiki/Madame_Satã |
4. | ⇧ | GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX |
5. | ⇧ | RODRIGUES, Rita de Cassia Colaço. De Denner a Chrysóstomo, a repressão invisibilizada. IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014 |
6. | ⇧ | GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000 |
7. | ⇧ | PERLONGHER, Nestor, O negócio do Michê – prostituição viril em São Paulo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987 |
8. | ⇧ | http://www.lupa.facom.ufba.br/2009/06/voce-sabe-o-que-e-pajuba/ |
9. | ⇧ | GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000 |
10. | ⇧ | GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000 |
11. | ⇧ | GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000 |
12. | ⇧ | OCANHA, Rafael Freitas. As rondas policiais de combate à homossexualidade na cidade de São Paulo (1976-1982). IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014 |
13. | ⇧ | FIGARI, Carlos. Os Outros Cariocas – Interpelações, experiiencias e identidades homoeróticas no Rio de Janeiro séculos XVII ao XX. Rio de Janeiro; IUPERJ, 2007. |
14. | ⇧ | TREVISAN, João Silverio. Estão querendo convergir, para onde? Disponível em: http://www.grupodignidade.org.br/wp-content/uploads/2015/11/06-LAMPIAO-DA-ESQUINA-EDICAO-02-JUNHO-JULHO-1978.pdf. Acessado em 01/05/2016. |
15. | ⇧ | https://en.wikipedia.org/wiki/M%C3%ADriam_Martinho |
16. | ⇧ | OCANHA, Rafael Freitas. As rondas policiais de combate à homossexualidade na cidade de São Paulo (1976-1982). IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014 |
17. | ⇧ | NOGUEIRA, Fernanda COSTA, Pêdra. Da Pornochanchada ao Pós-terrorismo no Brasil, 2015. https://medium.com/revista-rosa-5/da-pornochanchada-ao-pos-porno-terrorismo-no-brasil-das-cangaceiras-eroticas-ao-coletivo-coiote-f0f4ab92836 |
18. | ⇧ | GREEN, James. O grupo Somos, a esquerda e a resistência a ditadura. IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014 |
19. | ⇧ | LAMPIÃO DA ESQUINA, ed. 34 1981. http://www.grupodignidade.org.br/wp-content/uploads/2015/11/38-LAMPIAO-DA-ESQUINA-EDICAO-34-MARCO-1981.pdf. |
20. | ⇧ | FERNANDES, Marisa – Lésbicas e a ditadura Militar. IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014 |
21. | ⇧ | GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, 2000 |
22. | ⇧ | FIGARI, Carlos. Os Outros Cariocas – Interpelações, experiiencias e identidades homoeróticas no Rio de Janeiro séculos XVII ao XX. Rio de Janeiro; IUPERJ, 2007. |
23. | ⇧ | https://pt.wikipedia.org/wiki/Parada_do_orgulho_LGBT_de_S%C3%A3o_Paulo#P.C3.BAblico_presente |
24. | ⇧ | Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Wyllys. |
25. | ⇧ | http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNewsletter.php?sigla=newsletterPortalInternacionalDestaques&idConteudo=23851 |
26. | ⇧ | http://ihateflash.net/zine/nova-parada-lgbt-do-rj |
27. | ⇧ | https://catracalivre.com.br/sp/muito-mais-sao-paulo/gratis/revolta-da-lampada-protesto-contra-homofobia-e-pela-liberdade-do-corpo |
28. | ⇧ | Disponível em: http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/01/07/projeto-que-criminaliza-homofobia-sera-arquivado |
29. | ⇧ | https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/grupo-inaugura-casa-para-abrigar-gays-expulsos-pelas-familia-em-sp.ghtml |
30. | ⇧ | Fechamento: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/11/politica/1505164425_555164.html Reabertura: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45191250 |
31. | ⇧ | https://www.geledes.org.br/marielle-franco-foi-assassinada-na-noite-desta-quarta-14-no-centro-do-rio-aos-38-anos-principal-suspeita-e-execucao/ |
32. | ⇧ | https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/18/internacional/1529346704_000097.html |
33. | ⇧ | https://www.conjur.com.br/2018-mar-01/stf-autoriza-trans-mudar-nome-cirurgia-ou-decisao-judicial |
34. | ⇧ | https://www.huffpostbrasil.com/2018/10/10/as-sementes-de-marielle-franco-quem-sao-as-mulheres-negras-eleitas-em-2018_a_23557207/ |
35. | ⇧ | https://theintercept.com/2018/06/05/crivella-censura-jesus-trans/ |
36. | ⇧ | https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-em-25-frases-polemicas/ |
37. | ⇧ | Disponível em: https://jamilchade.blogosfera.uol.com.br/2019/06/27/brasil-veta-termo-genero-em-resolucoes-da-onu-e-cria-mal-estar/ |
38. | ⇧ | http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=414010 |
39. | ⇧ | https://www.instagram.com/p/CgMwDBguag6/?utm_source=ig_web_copy_link |
Acontece em novembro, em São Paulo, a Revolta da Lâmpada. Uma marcha que aconteceu no mesmo local da Avenida Paulista onde 4 anos antes três bichas foram agredidas com lâmpadas fluorescentes. ²¹
O projeto PL122 que criminaliza a LGBTfobia, nos mesmos moldes dos crimes de racismo é arquivado pelo Senado Brasileiro após tramitar pelas casas parlamentares desde 2001. Portanto LGBT segue sendo um crime não passível de punição. ²²
O deputado Jean Wyllys, defensor das causas LGBTs, cospe na cara do deputado fascista, homofóbico, racista e misógino Jair Bolsonaro, durante votação pela aceitação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Imagem: olharnegrotrans
É criada a CasaNem, idealizada por Indianare Siqueira, que acolhe pessoas LGBTI em estado de extrema vulnerabilidade na Lapa, Rio de Janeiro. No espaço também são oferecidos cursos de capacitação e o PreparaNem, curso preparatório para o exame do ENEM, para ingresso a universidade.
No dia 12 de junho um homem armado, Omar Mateen, entrou no clube noturno The Pulse em Orlando na Flórida, e matou 49 pessoas. Este crime de ódio contra a comunidade LGBTQ é também o maior massacre na história dos Estados Unidos.
É aberta em São Paulo a Casa 1, projeto de acolhida a pessoas LGBTIs expulsas de casa e em estado de vulnerabilidade. O espaço, idealizado por Iran Giusti, oferece cursos de capacitação e eventos culturais de afirmação dos corpos transviados. ²³
Ao longo dos anos 2010 acontecem dezenas de encontros e mostras artísticas LGBTI/cuir e transfeministas no Brasil. Uma delas, o Queermuseu, é censurada pelo Santander Cultural em Porto Alegre por pressão de grupos ultraconservadores e do prefeito da cidade. Através de mobilização e financiamento coletivo, a mostra reabre no ano seguinte, em 2018, na Escola de Artes Visuais Parque Lage. ²⁴ ²⁵
A socióloga ativista lésbica feminista e vereadora Marielle Franco é brutalmente assassinada no Rio de Janeiro. Um crime político que continua sem resposta: Quem mandou matar Marielle? ²⁶
Organização Mundial de Saúde decide retirar a transgeneridade da lista de doença mental, mas mantém dentro da classificação para que as pessoas possam seguir solicitando ajuda médica se desejar. ²⁷
A mostra Queermuseu é aberta na Escola de Artes Visuais Parque Lage no Rio de Janeiro com Forum paralelo organizado pela escola.
O Supremo Tribunal Federal reconhece, por unanimidade, que pessoas trans podem alterar nome e gênero sem a necessidade de cirurgia de redesignação. ²⁸
As sementes de Marielle: quatro mulheres negras, amigas de Marielle, são eleitas deputadas: Talíria Petrone (federal), e Renata Souza, Mônica Francisco e Dani Monteiro, que trabalhavam como assessoras da vereadora, deputadas estaduais. ²⁹
A mostra Corpos Visíveis, e o espetáculo O evangelho segundo Jesus, rainha do céu, espetáculo da atriz travesti Renata Carvalho, é censurada pelo pastor evangélico e prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. A organização da mostra resiste e mobiliza o público para um financiamento coletivo, e o encontro acontece no espaço Fundição Progresso na Lapa . ³⁰
Brasileiros elegem um presidente de extrema direita que entre muitas violências discursivas, faz afirmações como: “o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, leva um couro e muda o comportamento dele”, “a sociedade brasileira não gosta de homossexuais”. Refere-se ao peso de negros quilombolas por arroba: “Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais.” e as mulheres no mercado de trabalho: “Por isso o cara paga menos para a mulher (porque ela engravida)”. ³¹
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil lança orientação ideológica para frisar que gênero é apenas sexo biológico, alegando retomada da “definição tradicional”. O gesto é um ataque direto para invisibilizar pessoas trans/ travestis. ³²
O Supremo Tribunal Federal brasileiro determina que homolesbobitransbofia é crime, nos mesmos moldes do racismo. O processo tramita no Congresso brasileiro há 18 anos sem evolução. O presidente Jair Bolsonaro critica a decisão alegando que ficará difícil para homossexuais encontrarem emprego. ³³
O ActUp Nova Iorque marcha para alertar sobre a epidemia da varíola do macaco e a falta de ação do governo estadunidense com relação as vacinas. ³⁴
Informação compilada por Guilherme Altmayer (Brasil) e Carlos Motta (Internacional).
Para ver demais referências referencias bibliográficas internacionais visite: http://carlosmotta.com/project/shape-of-freedom
Esta é uma edição ampliada e continuada de Forma da Liberdade do artista Carlos Motta, e fez parte da exposição O que vem com a aurora curada por Bernardo Mosqueira para a Galeria Casa Triângulo em São Paulo (2016), da Bienal de São Paulo 2016 – Incerteza Viva, da mostra Os Corpos são as Obras na Despina no Rio de Janeiro (agosto 2017) e de Histórias da Sexualidade no MASP em São Paulo (2017).
1. FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Recife: Global Editora, 2003. pg. 210.
4. GREEN, James. Para além do carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX
5. RODRIGUES, Rita de Cassia Colaço. De Denner a Chrysóstomo, a repressão invisibilizada. IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014
6. PERLONGHER, Nestor, O negócio do Michê – prostituição viril em São Paulo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987
7. http://www.lupa.facom.ufba.br/2009/06/voce-sabe-o-que-e-pajuba/
8. OCANHA, Rafael Freitas. As rondas policiais de combate à homossexualidade na cidade de São Paulo (1976-1982). IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014
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10. TREVISAN, João Silverio. Estão querendo convergir, para onde? Disponível em: http://www.grupodignidade.org.br Acessado em 01/05/2016.
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12. NOGUEIRA, Fernanda COSTA, Pêdra. Da Pornochanchada ao Pós-terrorismo no Brasil, 2015. https://medium.com/revista-rosa-5/da-pornochanchada-ao-pos-porno-terrorismo-no-brasil-das-cangaceiras-eroticas-ao-coletivo-coiote-f0f4ab92836
13. GREEN, James. O grupo Somos, a esquerda e a resistência a ditadura. IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014
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15. FERNANDES, Marisa – Lésbicas e a ditadura Militar. IN: Ditadura e Homossexualidades, São Carlos: EduFScar, 2014
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19. http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNewsletter.php?sigla=newsletterPortalInternacionalDestaques&idConteudo=23851
20. I HATE FLASH. Nova Parada LGBT do RJ. Disponível em: http://ihateflash.net/zine/nova-parada-lgbt-do-rj
21. SOUZA, Victor. Revolta da Lâmpada: protesto contra homofobia e pela liberdade do corpo. Disponível em: https://catracalivre.com.br/sp/muito-mais-sao-paulo/gratis/revolta-da-lampada-protesto-contra-homofobia-e-pela-liberdade-do-corpo
22. SENADO FEDERAL. Projeto que criminaliza homofobia será arquivado. Disponível em: http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/01/07/projeto-que-criminaliza-homofobia-sera-arquivado.
23. G1. Grupo inaugura casa para abrigar gays expulsos pelas famílias em SP. Disponível em: https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/grupo-inaugura-casa-para-abrigar-gays-expulsos-pelas-familia-em-sp.ghtml.
24. MENDONÇA, Heloísa. Queermuseu: O dia em que a intolerância pegou uma exposição para Cristo. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/11/politica/1505164425_555164.html
25. ‘Queermuseu’, a exposição mais debatida e menos vista dos últimos tempos, reabre no Rio. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45191250
26. GELEDÉS. Marielle Franco foi assassinada na noite desta quarta, 14, no centro do Rio, aos 38 anos; principal suspeita é execução. Disponível em: https://www.geledes.org.br/marielle-franco-foi-assassinada-na-noite-desta-quarta-14-no-centro-do-rio-aos-38-anos-principal-suspeita-e-execucao/
27. DE BENITO, Emilio. OMS retira a transexualidade da lista de doenças mentais. Nova Classificação Internacional de Doenças descreve o vício em videogames como um distúrbio de comportamento. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/18/internacional/1529346704_000097.html
28. POMPEU, Ana. STF autoriza pessoa trans a mudar nome mesmo sem cirurgia ou decisão judicial. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-mar-01/stf-autoriza-trans-mudar-nome-cirurgia-ou-decisao-judicial/
29. HUFFPOST BRASIL. As sementes de Marielle Franco: quem são as mulheres negras eleitas em 2018. Disponível em: https://www.hurfpostbrasil.com/2018/10/10/as-sementes-de-marielle-franco-quem-sao-as-mulheres-negras-eleitas-em-2018_a_23557207/
30. GONÇALVES, Juliana; DE LARA, Bruna. Marcelo Crivella censura Jesus trans: peça tinha sido aprovada pela prefeitura do Rio de Janeiro. Prefeito do Rio afirma que apresentação ofende a consciência cristã e que evento articulado desde o ano passado é fake news. Disponível em: https://www.intercept.com.br/2018/06/05/crivella-censura-jesus-trans/
31. CARTA CAPITAL. Bolsonaro em 25 frases polêmicas. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-em-25-frases-polemicas
32. CHADE, Jamil. Brasil veta termo “gênero” em resoluções da ONU e cria mal-estar. Disponível em: https://jamilchade.blogosfera.uol.com.br/2019/06/27/brasil-veta-termo-genero-em-resolucoes-da-onu-e-cria-mal-estar/
33. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=414010
34. ACTUPNY. Emergency action: march against monkeypox and government failure. Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CgMwDBguag6/?utm_source=ig_web_copy_link