Por: Camila Puni
A instalação exibiu zines xerografados produzidos no período 2015-2017. Esses objetos de arte feminista fazem parte da pesquisa de doutoramento intitulada Itinerâncias zine-feministas: um mergulhar em datilografias de fúria & saudade, defendida em 2019. A exibição contou a história dos zines feministas brasileiros (com os próprios zines) encontrados em cidades como: Rio de Janeiro (grande Rio e Baixada), São Paulo-SP, Florianópolis-SC, Belo Horizonte-MG, Porto Alegre-RS, Curitiba-PR. Acompanhei a produção zinística por (e entre) redes de afeto e amizade-feminista. Mas por que são zines feministas? Porque são vozes, letras, rabiscos, colagens, HQ’s e poesias datilografadas com resistência, raiva, dor e sangue.
Acredito que mais do que a possibilidade em imaginar tive foi uma oportunidade em organizar o material artístico que vinha recolhendo até o momento. O que para uma pesquisadora em pleno calor do campo, vale muitíssimo. A principal motivação em participar da exposição era de exibir, abrir o processo e tirar das pastas as autopublicações que estavam frescas, recém lançadas por diversas coletivas:
TESOURA, Maracujá Roxa, Drunken Butterfly, Feira Velcrx, TIAMAT, Efusiva Distro; eram identidades: sapatão, fancha, lesbiana, sapa-bi, sapa-mpb, lésbica vegana, sapatânike, preta-gorda, poliamorosa (ah! Como vocês são maravilhosaxs).
Assim, poder perceber como os zines agiam em contato com pessoas que nunca haviam visto um zine. Um super desafio já que os zines raramente circulam em galerias ou instalações artísticas. São encontrados nas ruas, em shows punks ou feiras autônomas. Deparei-me com a sensação de estar levando ao espaço Despina um objeto banido por sua fragilidade. Afinal, são algumas folhas de papel dobradas ao meio… em alguns casos, nem ao menos um grampo a segurá-los. São as delicadezas que rodeiam os zines a sua fonte de resistência.
Quando espalhei pelo chão de meu quarto (um apto gracinha no bairro Santa Teresa) os mais de 50 zines que havia coletado na época, percebi que eles de alguma forma se conectavam. O Gui Altmayer foi fundamental nesse caminho de percepção, pois conseguimos visualizar juntxs a ligação afetiva desse objeto à maquina de escrever. Havia um circuito de ligação nas temáticas, formatos e autorias. Com isso a instalação se materializou. Tive a ideia de amarrar as fitas roxas (cor utilizada em bandeiras feministas) ligando cada zine a uma tecla da máquina de escrever. Os zines representavam a rede de autocuidado de meu campo de pesquisa.
Foi uma experiência tão importante que eu seria capaz de tornar essa instalação itinerante, para poder exibi-la novamente. Revisitar o trabalho e poder amarrar outros zines, a partir de outros recortes, nas teclas de uma máquina de escrever e libertá-los de minhas pastas mofadas. Seria certamente um alívio. Observo que o trabalho curto-circuito de zines feministas cresceu por seu montante de palavras registradas na tese. E agora preciso de alguma maneira compartilhar esses saberes, seja em sala de aula ou em congressos internacionais. O medo de publicar nossas artes ou de criar nossas poéticas, nos deixa a cada década.
Ao praticar zines, o que se pratica? Que corpos circulam com zines nas mãos? Que tipo de textos é encontrado atualmente nessa arte fugaz? Não consigo separar os Corpos São As Obras de minha tese, por isso acho que algumas palavras chaves podem ajudar: autocuidado, corporalidades não-heterossexuais, colagem, troca, datilografia, xerografia.
As zineiras encontram na prática dos zines, ou seja, na arte, uma maneira mais vivível de viver a vida; com essas práticas tencionam as estruturas de poder, pois transitam e traçam rotas de fuga por suas redes coletivas. A prática de datilografar memórias incentiva o corpo a dobrar-se em folhas de papel… a se masturbar e a colar-velcro livremente. As zineiraxs brasileiras estão escrevendo textos exibindo suas dores & saudades. As zineiras elaboram, sobretudo, redes de sobrevivência para enfrentar coletivamente os tombamentos e os levantes que o viver-junto exige.
A instalação exibiu zines xerografados produzidos no período 2015-2017. Esses objetos de arte feminista fazem parte da pesquisa de doutoramento intitulada Itinerâncias zine-feministas: um mergulhar em datilografias de fúria & saudade, defendida em 2019. A exibição contou a história dos zines feministas brasileiros (com os próprios zines) encontrados em cidades como: Rio de Janeiro (grande Rio e Baixada), São Paulo-SP, Florianópolis-SC, Belo Horizonte-MG, Porto Alegre-RS, Curitiba-PR. Acompanhei a produção zinística por (e entre) redes de afeto e amizade-feminista. Mas por que são zines feministas? Porque são vozes, letras, rabiscos, colagens, HQ’s e poesias datilografadas com resistência, raiva, dor e sangue.
Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?
Acredito que mais do que a possibilidade em imaginar tive foi uma oportunidade em organizar o material artístico que vinha recolhendo até o momento. O que para uma pesquisadora em pleno calor do campo, vale muitíssimo. A principal motivação em participar da exposição era de exibir, abrir o processo e tirar das pastas as autopublicações que estavam frescas, recém lançadas por diversas coletivas:
TESOURA, Maracujá Roxa, Drunken Butterfly, Feira Velcrx, TIAMAT, Efusiva Distro; eram identidades: sapatão, fancha, lesbiana, sapa-bi, sapa-mpb, lésbica vegana, sapatânike, preta-gorda, poliamorosa (ah! Como vocês são maravilhosaxs).
Assim, poder perceber como os zines agiam em contato com pessoas que nunca haviam visto um zine. Um super desafio já que os zines raramente circulam em galerias ou instalações artísticas. São encontrados nas ruas, em shows punks ou feiras autônomas. Deparei-me com a sensação de estar levando ao espaço Despina um objeto banido por sua fragilidade. Afinal, são algumas folhas de papel dobradas ao meio… em alguns casos, nem ao menos um grampo a segurá-los. São as delicadezas que rodeiam os zines a sua fonte de resistência.
Como se deu a materialização do trabalho?
Quando espalhei pelo chão de meu quarto (um apto gracinha no bairro Santa Teresa) os mais de 50 zines que havia coletado na época, percebi que eles de alguma forma se conectavam. O Gui Altmayer foi fundamental nesse caminho de percepção, pois conseguimos visualizar juntxs a ligação afetiva desse objeto à maquina de escrever. Havia um circuito de ligação nas temáticas, formatos e autorias. Com isso a instalação se materializou. Tive a ideia de amarrar as fitas roxas (cor utilizada em bandeiras feministas) ligando cada zine a uma tecla da máquina de escrever. Os zines representavam a rede de autocuidado de meu campo de pesquisa.
Como você vê seu trabalho hoje?
Foi uma experiência tão importante que eu seria capaz de tornar essa instalação itinerante, para poder exibi-la novamente. Revisitar o trabalho e poder amarrar outros zines, a partir de outros recortes, nas teclas de uma máquina de escrever e libertá-los de minhas pastas mofadas. Seria certamente um alívio. Observo que o trabalho curto-circuito de zines feministas cresceu por seu montante de palavras registradas na tese. E agora preciso de alguma maneira compartilhar esses saberes, seja em sala de aula ou em congressos internacionais. O medo de publicar nossas artes ou de criar nossas poéticas, nos deixa a cada década.
Que palavras conectam, colocam seu trabalho em relação com práticas, corpos, textos?
Ao praticar zines, o que se pratica? Que corpos circulam com zines nas mãos? Que tipo de textos é encontrado atualmente nessa arte fugaz? Não consigo separar os Corpos São As Obras de minha tese, por isso acho que algumas palavras chaves podem ajudar: autocuidado, corporalidades não-heterossexuais, colagem, troca, datilografia, xerografia.
As zineiras encontram na prática dos zines, ou seja, na arte, uma maneira mais vivível de viver a vida; com essas práticas tencionam as estruturas de poder, pois transitam e traçam rotas de fuga por suas redes coletivas. A prática de datilografar memórias incentiva o corpo a dobrar-se em folhas de papel… a se masturbar e a colar-velcro livremente. As zineiraxs brasileiras estão escrevendo textos exibindo suas dores & saudades. As zineiras elaboram, sobretudo, redes de sobrevivência para enfrentar coletivamente os tombamentos e os levantes que o viver-junto exige.